Autoria: Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles
20/04/2011
A dor musculoesquelética é um evento comum na população geral e, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, representa, neste início de século, o principal motivo da procura por atendimento médico pela população mundial. Pode ser aguda ou crônica (definida como aquela de duração maior do que 3 a 6 meses), regional (localizada) ou disseminada (caracterizada pela presença de dor difusa pelo corpo).
O termo dor miofascial é utilizado para descrever uma condição clínica específica de dor muscular regional, muito freqüentemente associada à presença de um ou mais pontos dolorosos, que nessas circunstâncias são denominados pontos-gatilho. A dor é profunda e mal localizada, e não está aparente o diagnóstico de um reumatismo de partes moles, como uma tendinite ou bursite, ou qualquer outra causa identificável de dor. Podem vir associados fenômenos motores, sensoriais ou autonômicos, justificando-se, desta maneira, a designação de síndrome miofascial.
É a causa mais freqüente de dor musculoesquelética, devendo sempre ser pesquisada a sua presença na avaliação das dores regionais orofaciais (cefaléias tensionais, dor temporo-mandibular), cervicais, dorsais e lombares, incluindo as dores pélvicas de origem desconhecida. É mais comum em indivíduos do sexo feminino, de meia-idade e com hábitos sedentários. Pode, no entanto, ocorrer em qualquer idade, apresentando uma maior prevalência do sexo masculino quando presente em idade mais avançada.
Uma vez que são elementos centrais para o diagnóstico, os pontos-gatilho devem ser bem caracterizados pelas mãos treinadas de um especialista. São definidos pela presença de um ponto doloroso à palpação manual sobre uma área de músculo tenso, que também provoca uma dor percebida à distância (dor referida). É comum a percepção de uma contração muscular à palpação local, bem como uma reação involuntária de salto em retirada à dor provocada. Além da dor muscular e dos pontos-gatilho, podem estar presentes diminuição da mobilidade local e fraqueza muscular (fenômenos motores), dormências e formigamento (fenômenos sensoriais), vertigens, urgência urinária e/ou desconforto ao urinar (fenômenos autonômicos, presentes na dor miofascial orofacial e pélvica, respectivamente). São freqüentes as queixas de alterações do sono e do humor. A fibromialgia deve ser sempre lembrada no diagnóstico diferencial, não sendo incomum a coexistência de ambas as patologias num mesmo indivíduo.
As causas da dor miofascial permanecem desconhecidas, tendo sido aventadas as hipóteses de uma disfunção muscular devido a alterações estruturais adquiridas, bem como a hipótese integrada que alia as desordens micro-estruturais a um fenômeno de sensibilização central como um mecanismo amplificador da dor (como o que ocorre na fibromialgia). A sensibilização central pode ser definida como uma disfunção na percepção da dor, na qual o sistema nervoso central passa a interpretar vários estímulos, inclusive os não dolorosos, como dor – daí o termo amplificação.
Dentre os fatores que modulam ou perpetuam a dor miofascial, destacam-se os mecânicos, como o estresse físico (bruxismo e má postura), e os não-mecânicos, como os estresses imunológico, hormonal, infeccioso e/ou psicológico.
O tratamento inclui estratégias de ordem multidisciplinar, dada a natureza complexa da dor, abrangendo áreas médicas como a reumatologia, a medicina física e a odontologia. A identificação de fatores mecânicos no ambiente de trabalho (ergonomia) é útil para a correção ou prevenção de elementos perpetuadores da dor. O bruxismo deve ser detectado e abordado por meio de exercícios para a musculatura mastigatória e pelo uso de placa dentária, quando esta se fizer necessária. Técnicas de terapia física, como o emprego de aerossóis, massagem e aplicação de calor superficial e profundo podem ser utilizadas, muito embora para estas não exista uma eficácia comprovada.
O agulhamento dos pontos-gatilho (introdução de uma agulha num ponto doloroso identificado no músculo), a seco ou com injeção de substâncias anestésicas, é amplamente descrito na literatura, devendo ser sempre realizado por um especialista. A injeção de toxina botulínica merece comprovação de sua eficácia, e o uso de corticóides locais deve ser evitado por efeitos adversos potenciais, além de qualquer vantagem adicional demonstrável. A acupuntura, por sua vez, apresenta resultados positivos.
O tratamento medicamentoso inclui o uso de analgésicos, antiinflamatórios não-hormonais, miorrelaxantes e antidepressivos. A identificação de distúrbios psicológicos, tanto quanto suporte para estes, é de incontestável importância.
O diagnóstico precoce, seguido de tratamento especializado e multidisciplinar da síndrome miofascial são os grandes diferenciais para se evitar a cronicidade e o conseqüente pior prognóstico dessa dor.
Última atualização (20/04/2011)
Esta sou eu. Sinto tdos esses sintomas.
Bom dia. Qual especialista procurar para poder identificar esse problema? Tenho estes sintomas, mas não sei qual médico procurar.
Obrigada!
Boa tarde, Michelle! Você pode encontrar um reumatologista através do nosso site, em (https://www.reumatologia.org.br/associado) – ou procure por reumatologistas na sua cidade ou os hospitais da rede pública com atendimento gratuito em Reumatologia (https://www.reumatologia.org.br/pacientes/servicos-de-reumatologia/ )
A procura de um neurologista tbm resolve?
Julcilea, boa tarde. Sugerimos procurar um reumatologista ou fisiatra, em se tratando de síndrome miofascial. Obrigada!